Vaso em 180 pedaços, quadro de R$ 8 mi de Di Cavalcanti: saiba como foi restauro de obras vandalizadas em 8/1 que voltam hoje a Brasília

  • 08/01/2025
(Foto: Reprodução)
Equipe de restauro da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) precisou montar laboratório dentro do Palácio do Planato para restaurar 21 obras vandalizadas. Processo contou com 50 profissionais e levou um ano e meio. Após restauração, obras depredadas em atos antidemocráticos retornam ao Planalto A cerimônia em defesa da democracia, que será realizada em Brasília nesta quarta-feira (8) para lembrar os dois anos dos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023, também irá marcar a reintegração das obras de artes danificadas pelos vândalos ao Palácio do Planalto. 📲 Acesse o canal do g1 RS no WhatsApp Ao todo, 21 peças foram restauradas em um laboratório montado no Palácio da Alvorada, enquanto um relógio de pêndulo do século XVII trazido ao Brasil por Dom João VI precisou ser recuperado na Suíça. (Saiba mais abaixo). O processo de restauro das obras foi conduzido por profissionais da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), em parceria com o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), que assumiu os custos. A professora Andrea Bachettini, que coordenou o processo, conta que o trabalho precisou ser todo feito sem retirar as obras de Brasília, contou com cerca de 50 especialistas e levou mais de um ano e meio para ser finalizado. "Foi das coisas mais dolorosas que eu já vi. Chocou muito, pois é a história da arte brasileira, são obras do povo brasileiro. É um trabalho importantíssimo para todos nós, pela carga simbólica", destaca a pesquisadora do Departamento de Museologia, Conservação e Restauro da UFPel. No processo de restauro, as obras passaram por exames de raio-x, raios ultravioleta, infravermelho, além de análises dos tipos de tecido e pigmentos usados originalmente pelos artistas. "Não esconder as cicatrizes" Obra "As mulatas", de Di Cavalcanti, passou por restauro após ser vandalizada com sete cortes em 8/1 Nauro Jr./UFPel Entre as obras restauradas, está uma tela de Di Cavalcanti, conhecida como "As Mulatas" (a obra, no entanto, nunca foi oficialmente batizada pelo autor), de 1962. A tela foi rasgada por vândalos em sete pontos com um objeto cortante. Para restaurá-la, a equipe precisou unir as partes rompidas com uma cola especial, realizar dois enxertos com material similar à tela original e fazer pequenas novas aplicações de tinta (processo chamado de "reintegração pictórica"), também com um pigmento especial, para que o restauro seja identificável em possíveis futuras intervenções. Nos pontos em que não foi necessário enxerto de tecido, a trama das fibras foi refeita, em um processo minucioso e demorado. "Como é uma obra de grande valor econômico e importantíssima para a história da arte, optamos que o restauro ficasse imperceptível pela frente, mas colocamos um poliéster transparente na parte de trás, para que ficassem expostas as marcas que ela sofreu. Optamos por não esconder as cicatrizes", explica Andrea. Processo de restauro da obra "As mulatas", de Di Cavalcanti, no Palácio do Planalto Nauro Jr./UFPel Vaso em 180 pedaços e escultura jogada de três andares Outras obras precisaram passar por intervenções mais profundas, como um vaso italiano de cerâmica que foi rompido em 180 pedaços após os atos de vandalismo. "Colamos peça por peça, imitamos a pintura como a original e precisamos fazer um molde para alças do vaso, que tinha partes faltando. Catalogamos os 180 fragmentos e todos os farelos, mesmo os que não tívemos como usar. Está tudo guardado e catalogado", explica Andrea. Vaso italiano de cerâmica foi rompido em 180 pedaços após os atos de vandalismo em 8/1 em Brasília e precisou ser restaurado por equipe da universidade Nauro Jr./UFPel Lula e Janja observam vaso e relógio restaurados Reprodução Já a escultura "Vênus Apocalíptica Fragmentando-se", de Marta Minujín, segundo Andrea, "foi lançada pela janela como uma arma, como uma bola de canhão, do terceiro andar". "Se pegasse em alguém, mataria", diz a restauradora. A obra também passou por um processo profundo de restauro e volta nesta quarta a Brasília. Escultura "Vênus Apocalíptica Fragmentando-se", de Marta Minujín, precisou ser restaurada por equipe da UFPel Nauro Jr./UFPel LEIA TAMBÉM As obras de arte vandalizadas nas invasões em Brasília ANTES E DEPOIS: Veja obras de arte danificadas durante atos terroristas Veja como ficou relógio raro, do século 17, destruído em ataque terrorista no Palácio do Planalto Reintegração de obras O primeiro ato da cerimônia teve a reintegração ao acervo do governo de obras de arte que foram vandalizadas por golpistas. O Planalto escolheu destacar o retorno de um relógio de pêndulo do século XVII e de uma ânfora portuguesa em cerâmica esmaltada por simbolizarem a dificuldade do processo de reparo. O relógio foi feito por Balthazar Martinot, relojoeiro da corte francesa, e foi trazido ao Brasil por Dom João VI, que se tornou rei de Portugal. A peça é feita de casco de tartaruga e com um bronze que não é fabricado há dezenas de anos. Detalhe de dano na tela 'As Mulatas', de Di Cavalcanti, após os ataques terroristas no Planalto, no último domingo (9). Ueslei Marcelino/Reuters Obra de Di Cavalcanti ‘Fiquei estarrecida’, diz filha de Di Cavalcanti sobre obra do pai atacada no Planalto O quadro é a principal peça do Salão Nobre do Planalto e tem um valor estimado em R$ 8 milhões, embora seu valor de venda possa ser cinco vezes maior em leilões, de acordo com o governo. A obra de 1962 é uma das mais importantes já produzidas pelo pintor carioca Emiliano Augusto Cavalcanti de Albuquerque e Melo (1897-1976). O Planalto informou que foram encontrados sete rasgos de diferentes tamanhos. Elizabeth Di Cavalcanti, filha do artista, esclareceu ao jornal O Globo que, embora a tela esteja sendo chamada na imprensa e nas redes sociais de "As mulatas", ela não tinha nome, porque seu pai não batizava suas obras. Previsto para as 10h30, o segundo ato será a apresentação do quadro após o restauro. A peça, que ficava no terceiro andar do Planalto, foi furada e rasgada por extremistas. Lula também receberá de cinco alunos de um projeto de educação patrimonial réplicas de "As mulatas" e da ânfora. Tela de 1962 é uma das mais importantes já produzidas por Di Cavalcanti Divulgação/Planalto Abraço pela democracia Lula e os demais convidados da cerimônia descerão a rampa do Planalto e irão até a Praça dos Três Poderes para o "abraço da democracia". O governo montará um arranjo de flores na praça com a palavra "democracia". Veja a lista de obras restauradas: Lista de obras restauradas que serão devolvidas ao acervo da Presidência: Relógio de mesa, de Balthazar Martinot e André Boulle Ânfora italiana em cerâmica esmaltada Escultura O Flautista, de Bruno Giorgi Escultura Vênus Apocalíptica Fragmentando-se, de Marta Minujín Quadro com a pintura Mulatas, de Emiliano Di Cavalcanti Quadro com pintura do retrato de Duque de Caxias, de Oswaldo Teixeira Quadro representando galhos e sombras, de Frans Krajcberg Quadro com a pintura Fachada Colonial Rosa com Toalha Quadro com a pintura Casarios, de Dario Mecatti Quadro com a pintura Cena de Café, de Clóvis Graciano Quadro com a pintura Paisagem, de Armando Viana Pintura de Glênio Bianchetti Pintura de Glênio Bianchetti Pintura de Glênio Bianchetti Pintura de Glênio Bianchetti Pintura de Glênio Bianchetti Quadro com a pintura Matriz e Grade no primeiro plano, de Ivan Marquetti Quadro Rosas e Brancos Suspensos, de José Paulo Moreira da Fonseca Tela Cotstwold Town, de John Piper Tela de Grauben do Monte Lima Tela Bird, de Martin Bradley VÍDEOS: Tudo sobre o RS

FONTE: https://g1.globo.com/rs/rio-grande-do-sul/noticia/2025/01/08/vaso-em-180-pedacos-obra-de-r-8-mi-de-di-cavalcanti-saiba-como-foi-restauro-de-obras-vandalizadas-em-81-que-voltam-hoje-a-brasilia.ghtml


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